Uivo da Noite


Eu fiquei profundamente estática, para não ser esmagada pelo peso do vento.

Eu senti na minha espinha, a ferida viva de quem respira. 
Era mais uma noite de palavras inesperadas, 
Inóspitas e ríspidas, no desespero de desabafar. 

Eu coloquei um pé depois do outro com cuidado pra não cair . 
Fui seguindo naquela estrada sem luz, sem medo de desistir. 

Eu vi a mim mesma no reflexo da madrugada. 
Calada. 
Balancei pra gerar um pouco de movimento.
Procurei ficar atenta, no meio da tormenta.
Foi difícil não cair. 

Sabia como enfrentar as tempestades, porque no fundo as minhas vontades eram os próprios furacões ao qual o povo tanto fugia. 
Eu não me via no mundo daquela gente.
 Eu sei que sou um pouco diferente e não vou me machucar pra me encaixar. 

Eu não vou me contorcer por outro ser.. 
Ao menos que ele mesmo me desenrrole, ou me dobre em mil partes. 
Ao menos que ele se proponha a entender onde meu quebra cabeças cabe. 

Eu sei sorrir e chorar. 
Ouvir e gritar. 
E sou completamente minha. 
O meu corpo tem formas, cheiros e sabores. 
Pelos, escrúpulos e horrores. 
Tem beleza e profundidade. 
Tem vontade e muita verdade.
 
Eu também sei ser toda amor.
Para aqueles que buscam me decifrar. 
Eu também sei dar o tanto que for. 
Sei o valor de uma flor. 
A esquisitice do universo. 

Meu verso é pausa, num momento inquieto . 
 Uma cura pra dispensar remédio. 

Eu já saí correndo, simplesmente porque senti vontade. 
Eu já fiquei parada, no meio da estrada.
São tantos momentos que não me lembro.. 
Tato, bichos nos mato procurando o que comer. 

Eu só queria que, a minha prosperidade não prejudicasse nínguem .
Que aquela criatura ali estática, pudesse realizar todos os seus desejos e sair voando. 

Um dia eu estava na calha de uma casa, olhando a cascata escorrer dentro da chuva. 
Depois eu fiquei parada na bica, com os olhos esfumaçados no meio das nuvens. 
Tempestade no meio da noite.
Fúria implacável, uivo de loba. 

Toda vez que eu conto uma história ela ganha vida. 
A existência é um buraco sem saida .
Ontem eu tive uma ideia que se foi com o vento.
Quando escrevo, minhas palavras sangram. 

O sangue é o fluido da vida. 
Um líquido vital mágico capaz de te permitir. 
Ele pode se esvair em um segundo, e ja não somos mais. 
Enquanto o Rio corre por entre as pedras, eu sou toda feita de lama. 
E me desfaço.  
Liquiefeita em minerais. 

Aqui jaz um momento especial de minha vida. 
Longe do espaço e do tempo. 
De qualquer julgamento. 
Eu tive sonhos muito estranhos e me lembro de cada detalhe. 
Eu so não te conto porque se não..... 
O uivo da noite me chama . 


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