Capoeira Angola
🪘 Capoeira Angola — corpo, alma e resistência
Mais do que uma luta, a Capoeira Angola é um caminho ancestral. Nascida nos tempos da escravidão, ela foi o jeito que o povo negro encontrou para continuar existindo — fortalecendo o corpo para estar pronto para qualquer situação de perigo, qualquer perseguição — e ao mesmo tempo preservando a liberdade, disfarçada de dança para enganar quem olhava.
Enquanto o braço trabalhava no engenho, a roda se formava para treinar a ginga, o jogo, o corpo no chão, no ritmo. Porque aquela dança tinha um outro sentido: preparar a defesa, manter viva a resistência física e cultural — em campos de fuga, em clareiras, em encontros escondidos, nas capoeiras.
Cada roda é um templo vivo. O berimbau chama, o corpo responde, e o jogo acontece — não só para ludibriar os opressores, mas para afirmar: eu existo, eu luto, eu pertenço. O ritmo, o canto, a malícia, o olhar atento — tudo isso faz parte da Capoeira Angola.
Sua origem tem raízes no N’golo, que era uma dança ritual de iniciação praticada em certas comunidades bantu, onde os jovens demonstravam força, destreza e beleza através de movimentos ágeis e chutes — gestos que lembram claramente os da Capoeira.
Com a diáspora africana e a repressão cultural nas Américas, essas práticas foram se transformando: misturando-se com a música e a religiosidade afro-brasileira, surgindo nas senzalas, nos quilombos e nas ruas como símbolo de resistência e identidade.
O nome Capoeira Angola se firmou por serem os negros de Angola os praticantes que mais se destacavam no jogo, na Bahia, lugar que foi berço do firmamento, expansão e disseminação da Capoeira Angola.
Jogar é honrar quem veio antes. É manter viva a memória de quem resistiu com o corpo, com o canto, com o suor. Porque a Capoeira não é só movimento — é espírito em roda, é dança que esconde a luta, corpo que treina para liberdade.
A Capoeira Angola é um canto de liberdade, onde o corpo clama pela proteção de seu axé, que tenha forças para continuar sua jornada.
E quando entrar na roda, ou mesmo se mover na ginga: sinta a raiz, o chão, o sopro da história. Porque aquele corpo treinado era também um corpo livre.
A Capoeira foi proibida oficialmente no Brasil pelo Decreto nº 847, de 11 de outubro de 1890. Esse decreto criminalizava a prática da capoeira, considerando-a uma forma de "vadiagem" ou "capoeiragem", e impunha penas de prisão para quem fosse flagrado praticando. Somente em 1935, a capoeira deixou de ser considerada uma arte proibida.
Por ser considerada uma arte marginal, um dos fundamentos da Capoeira Angola é jogar de tênis (sapato fechado), calça e camiseta por dentro da calça. Essa vestimenta é muito mais do que um uniforme, mas uma forma de trazer valorização para a prática, colocando-a num lugar de importância, prestígio e seriedade.
Na época da escravidão e até mesmo no período pós-abolicionista, muitos negros não tinham sapatos ou roupas adequadas para se vestir, e trazer essa vestimenta para a prática da capoeira foi também um símbolo de ascensão social, que buscava modificar a estrutura de vida e dignificar as condições humanas.
Hoje a Capoeira Angola é uma prática que continua carregando esse legado, sendo um símbolo cultural de resistência, conexão ancestral e memória histórica.
Seu legado perdura! Que continue sendo um canto de liberdade, onde o corpo, a mente e o espírito trabalham juntos, louvando todos aqueles que vieram antes e que lutaram pela sua identidade, humanidade e força! Pelo direito de existir de forma digna e justa!
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